segunda-feira, 28 de abril de 2014

Viagens e viajantes nas Tentações de Santo Antão. Hieronimus Bosch





 Hieronimus Bosch, pormenores de As Tentações de Santo Antão, cerca de 1500.

3 comentários:

  1. Impressionantes as viagens e os viajantes de Bosch.
    Enigmáticas.
    Contemporâneas.
    Naquele sentido que Agamben atribui à contemporaneidade:

    "A contemporaneidade se escreve no presente assinalando-o antes de tudo como arcaico, e somente quem percebe no mais moderno e recente os índices e as assinaturas do arcaico pode dele ser contemporâneo. Arcaico significa: próximo da Arké, isto é , da origem. Mas a origem não está situada apenas num passado cronológico: ela é contemporânea ao devir histórico e não cessa de operar neste, como o embrião continua a agir nos tecidos do organismo maduro e a criança na vida psíquica do adulto. A distância - e, ao mesmo tempo, a proximidade - que define a contemporaneidade tem o seu fundamento nessa proximidade com a origem, que em nenhum ponto pulsa com mais força do que no presente."
    "O que é o contemporâneo?" - lição inaugural do curso de filosofia teorética 2006/2007 (p. 69)

    Também Walter Benjamim dizia que o índice histórico contido nas imagens do passado mostra que estas alcançarão plena legibilidade somente num determinado momento da sua história.

    Há uma perenidade singular nestas imagens!
    (digo eu agora)

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  2. VISÕES PARADISÍACAS

    Nascem também na nossa terra cavalos e burros selvagens, homens de cornos, bois selvagens, homens selvagens, monóculos, homens com olhos adiante e atrás, homens sem cabeça, com a boca e os olhos no peito, cujo comprimento é de doze pés, e a largura seis; na cor, são semelhantes ao ouro puríssimo; homens com doze pés e seis braços, doze mãos, quatro cabeças, em cada uma das quais têm duas bocas e três olhos. Nascem ainda na nossa terra mulheres com grandes corpos, barbas até às mamas, cabeças rapadas, vestidas de peles, óptimas caçadoras, que criam animais selvagens como cães para a caça, leão contra leão, urso contra urso, cervo contra cervo e assim todos os outros; sagitários, faunos, sátiros e mulheres da mesma raça, pigmeus, cinocéfalos, gigantes, cuja altura é de quarenta côvados, cíclopes e uma ave a que chamam fénix e quase todo o género de animais que existem debaixo do céu.

    CARTA DO PRESTE JOÃO DAS ÍNDIAS, trad. de Leonor Buescu, Lisboa, Assírio & Alvim, 1998, pp. 57.

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  3. VISÕES PARADISÍACAS (cont.)

    Existe também, em direcção ao Setentrião, naquela parte em que o mundo acaba, um certo lugar que nos pertence, que é chamado a caverna dos dragões. Em toda a extensão, em comprimento e largura, em enorme dificuldade e aspereza, profundíssima em profundíssima profundidade, é muito cavernosa e obscura. Neste lugar, na verdade, existem infinitos milhares de terríveis dragões, os quais os habitantes das províncias circunvizinhas guardam com a maior diligência para que nenhuns encantadores dos índios ou provenientes de qualquer outro lugar tentem roubar estes dragões. Com efeito, costumam os príncipes dos índios, em suas bodas e outras festas, ter dragões, e sem dragões consideram que a festa não teve esplendor.
    E tal como os pastores costumam domar e domesticar as crias de cavalos dos seus rebanhos de éguas, ensiná-las e adestrá-las e chamá-las com nomes próprios, impor-lhes freio e sela e cavalgá-las sempre que queiram, do mesmo modo esses homens que têm a guarda e adestramento desses dragões, domam-nos, domesticam-nos, põem-lhes freio e sela e, quando e onde querem, cavalgam-nos.

    CARTA DO PRESTE JOÃO DAS ÍNDIAS, trad. de Leonor Buescu, Assírio & Alvim, 1998, pp. 70-71.

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