sábado, 1 de março de 2014

No caminho para a cidade celeste (5). Maria Clara de Almeida Lucas

Geralmente situado no topo de uma elevação, como é o caso de S. Amaro, ou protegido por floresta cerrada, ou, em outras culturas, por barreira de fogo ou água, o castelo ou palácio próprio da paisagem que caracteriza a cidade celeste é de tão difícil acesso e apresenta uma arquitectura sólida (o uso de matérias preciosas conotam-no não só de beleza mas se solidez) dando assim uma sensação de segurança, tal como a casa ou o regaço materno. É pois um símbolo de protecção.
Não é contudo apenas este o motivo porque ele se torna desejável, ao ponto de levar o homem a correr os maiores riscos para o atingir. Ele é geralmente o guardião se algo de maravilhoso: a donzela, no caso dos romances de cavalaria, o tabernáculo da divindade, na hagiografia.

Maria Clara Almeida Lucas, "A Cidade Celeste na Hagiografia Medieval Portuguesa", in O Imaginário da Cidade. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian/ACARTE, 1989, p. 85.

2 comentários:

  1. Eis a mulher-fortaleza em seu esplendor mítico!

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  2. A CIDADE, TEMPLO SOLAR

    Uma alta colina ergue-se no meio de vastíssima planura, e sobre ela assenta a maior parte da cidade, mas as suas múltiplas circunferências estendem-se por longo espaço para além das faldas da colina, de tal maneira que o diâmetro da cidade mede mais de duas milhas, e sete o inteiro recinto. Mas achando-se sobre uma elevação, apresenta uma capacidade bem maior do que se jazesse numa não interrupta planura. Esta é dividida em sete círculos e recintos particularmente distintos com os nomes de cada um dos sete planetas; cada círculo comunica com o outro por quatro diferentes caminhos que terminam por quatro portas, voltadas para os quatro pontos cardeais da Terra. Esta cidade foi construída de tal forma que se alguém, combatendo, ganhasse o primeiro recinto, precisaria do dobro das forças para superar o segundo, do triplo para o terceiro, e assim num multiplicar de esforços e de trabalhos para os seguintes.
    Assim, quem pretendesse expugnar a cidade, teria de recomeçar sete vezes a empresa.

    Tomás Campanella, A CIDADE DO SOL, Lisboa, Guimarães Editores, 1996, pp. 14-15.

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