quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

No caminho para a cidade celeste (3). Maria Clara de Almeida Lucas

O rio que corre sob a ponte pertence a outro grupo de símbolos fundamentais desta visões e que engloba o rio, o lago, a fonte e a água do mar.
[...]
Lugar por excelência do renascimento e das grandes transformações, o mar é o símbolo da dinâmica da vida. Por isso é escolhido para a viagem que o santo [Santo Amaro] inicia a caminho da morte que o fará renascer. Impróprio movimento das águas, na sua incerteza, é símbolo de insegurança , de dúvida quanto ao lugar de chegada, aqui apenas anunciado "para os lados onde o sol nasce". É o mar, símbolo ambivalente, que tanto representa a morte como dá nova vida através da morte.

Maria Clara Almeida Lucas, "A Cidade Celeste na Hagiografia Medieval Portuguesa", in O Imaginário da Cidade. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian/ACARTE, 1989, p. 82.

4 comentários:

  1. VIR DE LONGE

    no regresso encontrei aqueles
    que haviam estendido o sedento corpo
    sobre infindáveis areias

    tinham os gestos lentos das feras amansadas
    e o mar iluminava-lhes as máscaras
    esculpidas pelo dedo errante da noite

    prendiam sóis nos cabelos entrançados
    lentamente
    moldavam o rosto lívido como um osso
    mas estavam vivos quando lhes toquei
    depois
    a solidão transformou-se de novo em dor
    e nenhum quis pernoitar na respiração
    do lume

    ofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
    a flor que murcha no estremecer da luz
    levei-os comigo
    até onde o perfume insensato de um poema
    os transformou em remota e resignada ausência

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  2. Por lapso, não foi indicada a autoria do poema.
    É de Al Berto.
    Foi dito pelo próprio na sessão AL BERTO DIZ AL BERTO, na Ideia Abraço, Rua da Rosa, 241, Lisboa, em 14 de Dezembro de 1995.
    Pelas 22 horas.
    Inesquecido.

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  3. Não por acaso, na palavra "maravilha" constam duas palavras essenciais no universo a que este texto: "mar" e "ilha".

    O mar, morte e oportunidade de voltar a nascer (o antónimo de morte é nascimento e não vida: há muita vida na morte e muita morte na vida...).
    E a "ilha"? Quanto simbolismo também!

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  4. a que este texto... alude. Claro. Peço desculpa.

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