sábado, 22 de fevereiro de 2014

Caminho, meu belo caminho... que dizes afinal sobre mim? (2) Pierre Sansot

No campo, o caminho dispõe-me à solidão e procura-a para mim. Raramente me associo a outros caminhantes. Aceito, ao longo do passeio, companheiros ocasionais que me deixarão quando lhes aprouver.  Enquanto tagarelamos, afastamo-nos deste caminho que se me apresenta como uma obra agradável, mas grave. Desejaríamos ser interrompidos no decurso de uma leitura ou de um concerto?
Que destino reservar aos desconhecidos, às pessoas que entrevimos numa peregrinação, que é o contrário duma viagem pré-organizada no decurso da qual foram preparadas as cerimonias de acolhimento, os cenários. O vagabundo, já o escrevi, inquieta, não por ser um ladrão de galinhas ou de pneus, mas por ser ladrão de terra, de intimidade, sempre que ousa dirigir o seu olhar para um conjunto que não lhe pertence, que não adquiriu nem construiu. As alegrias do pateta alegre, do homem desocupado, indiferente ao dia de amanhã, irritam os que labutam e sofrem.
Naturalmente outros encontros acontecem com vagabundos despreocupados. Há um sério risco de formar, paradoxalmente, um círculo tão fechado quanto o dos frequentadores habituais de um café, ou dos co-proprietários de um loteamento, ou seja, de nos perdemos na narrativa de proezas reais ou imaginárias e de diferir o momento de retomar a estrada. Tanta gente se mete à estrada (não é o caso dos vagabundos), pára num lugar e por lá fica.

Pierre Sansot, Chemins aux Vents. Paris, Éditions Payot et Rivages, 2002, p. 206-207.

1 comentário:

  1. ET SOUDAIN...

    Norbert Hanold n'avait pas en tête des pensées blasphématoires, mais c'est avec un vague sentiment qui méritait entièrement cette qualification qu'il regardait, sans faire un mouvement, la Strada di Mercurio dans la direction des remparts.
    Les blocs de lave rocailleuse dont elle est pavée, encore aussi bien rangés qu'au moment de leur ensevelissement étaient, pris séparément, de couleur gris clair, mais une si éblouissante clarté tombait sur eux qu'ils s'étendaient comme un blanc ruban d'argent dans l'espace brûlant qui s'épandait entre les muettes ruines des murailles et les fragments de colonne.
    Alors, soudain...

    Sigmund Freud, DÉLIRE ET RÊVES DANS LA "GRADIVA" DE JENSEN, Paris, Gallimard, 1981, pp. 51-52.

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