quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Pretende fazer uma grande viagem com amigos. M.-L. Franz

O que todos nós sabemos teoricamente  - que tudo depende do indivíduo - torna-se através dos sonhos, um facto palpável que cada um pode conhecer pessoalmente. Temos, algumas vezes, uma poderosa sensação de que o Grande Homem quer alguma coisa de nós, estabelecendo algums tarefas especiais para cumprirmos. A nossa reacção positiva a esta experiência pode ajudar-nos a adquirir forças para nadar contar a corrente do preconceito colectivo, levando a sério nossa própria alma.
Naturalmente, nem sempre há-de ser uma tarefa agradável. Por exemplo, se você pretende fazer uma grande viagem com  amigos no próximo domingo, um sonho pode proibir este passeio, pedindo que, em seu lugar, faça alguma trabalho criativo. Se atender ao seu inconsciente e lhe obedecer, pode esperar dai em diante interferências constantes nos seus planos conscientes. Nossa vontade é sempre interrompida por outras intenções a que nos devemos submeter, ou pelo menos considerar seriamente.  É promissor, em parte, que a ideia de dever, de obrigação ligada ao processo de individualização nos parece, muitas vezes, mais um peso do que uma benção imediata.

M.-L. von Franz, "O processo de individualização" in AAVV, Os Homens e os seus Símbolos. Rio de Janeiro, Editorial Nova Fronteira, 1993, p. 218.

1 comentário:

  1. NEM SEMPRE É UMA TAREFA AGRADÁVEL

    "Amigo Artur" - dizia o jornalista - "hoje, por acaso, eu e outro amigo combinámos uma partida ao Dafundo [...] Despesas divididas como num piquenique de amigos. Quer você vir? O outro rapaz é conhecido, é dos nossos. Resposta. O rendez-vous é às 9 em ponto na Casa Havanesa. P.S. - A formosa Concha está pronta a ir e você será o seu cavalière! Viva a folia!"
    Artur ficou com o bilhete na mão, hesitando: na letra irregular e desmanchada do Melchior entrevia como que uma impetuosidade de troça, desalinhos de toilette. A ideia da Orgia aparecia-lhe toda reluzente de tentações: numa abundância de luzes de gás, jactos doirados de champagne saltando dos gargalos estreitos, mulheres de decotes atrevidos cantando, valsas improvisadas fazendo saltar os cristais sobre a mesa e em que o frufru das sedas se misturava ao estalar dos beijos!... Desejava muito ir - mas a sua promessa a um homem tão influente como o Meirinho?...

    Eça de Queirós, A CAPITAL, Porto Lello & Irmãos, 1978, pp. 292-293.

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