segunda-feira, 22 de abril de 2013

Vieste com a cara e a coragem. Com malas, viagens, prá dentro de mim. Ivan Lins

3 comentários:

  1. Terá sido só o sentido estético que motivou esta publicação, ou “postagem” como agora se diz? Sinceramente, desejo que não. Desejo que se alguma vez se sentiu “ferido”, ou não, lhe tenha acontecido o milagre, esse que consegue coisas “que até mesmo Deus duvida” e que Ivan canta no poema, o milagre do amor, do puro amor. Daquele que ama mesmo quando parece não amar, daquele que ama sem medida, porque só é comparável a si própria a forma como ama, transcendendo assim a definição matemática de grandeza. Daquele que veste de melodias-outras palavras-mesmas e prescinde delas num olhar.
    Daquele que ama porque sim, que é a única razão para amar. É aí que reside a essência do amor: ser por razão nenhuma. E é ser por razão nenhuma que faz do amor um lugar seguro, uma verdade inquestionável, uma certeza.
    O seu filho está a quantos quilómetros de distância? Deixa de o amar por isso? Vai trocar de filho? Vai dizer-me que o ama porque é seu filho? Sendo a última verdadeira e generalizando, como explica que haja mães e pais que matam os filhos? Que “forma estranha de amar”, não?!
    Vai dizer-me que o amor entre homem/mulher, homem/homem ou mulher/mulher (dependendo da orientação sexual) é diferente? Não, na essência é igual. Tem de ser igual. O amor tem de ser um lugar seguro, uma certeza. É isso que lhe diz qual a cor da linha de Metro em que deve viajar, é essa certeza que o impede de se afogar “no lento precipício que há dentro de si”, porque mesmo num insipido e longínquo quarto de hotel, de qualquer lado da noite estende-se a lembrança de mãos que afagam, se não a longitude do corpo, a saudade da alma. Sente-lhes o mimo e adormecerá sorrindo.
    A proposta de Gaston Bachelard, que nos deixou na interessante palestra com que nos brindou: considerar cada vez mais o amor como o encontro improvável, é terrível. O amor se não existe tem de ser inventado. Tudo o que tocamos, tudo o que fazemos, tem de ser feito com amor (o que eu me apetecia dizer sobre o “sentido de dever”, o “espírito de missão”…). “Deambular pela cidade” sem perspetivas de encontro é deixar-se esmagar pelo betão e pelas ruínas da alma. A esperança não se herda, cultiva-se e anda sempre de mãos dadas com a utopia. Se perdemos o cavalo verde porque a vida trocou de nós e mostrou-nos uma realidade mais aliciante à qual não temos hipóteses de ascender, temos de inventar outro. Noé levou para a Arca da Aliança dois exemplares de cada espécie, é possível que haja mais do que um exemplar. É de loucura em loucura que nos reinventamos.
    O seu desafio foi aceite, na Sempraudaz- Associação Cultural. Gasto Bachelard vai ser tema de debate para as tardes das quintas-feiras de Maio. Já tive um breve “tete-à-tete” com a Dra. H.C. sobre o assunto, garantindo-lhe que vai ter de se esforçar muito para me convencer que a razão não está do meu lado (Que pretensiosa! Está a pensar. Seja mais benevolente. Pense antes: Como é bom ser-se ignorante!)
    Com toda a minha gratidão pela gentileza de ter gasto o seu tempo a falar para nós,
    Um abraço fraterno,
    Isabel

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  2. Que belo comentário, Isabel. Fico-lhe muito grato pela viagem que propõe dentro das viagens que vou partilhando. Um abraço muito amigo. João

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  3. Ouvindo Ivan Lins, concluí que mais importante do que a viagem é mesmo a coragem, pelo menos neste caso. É preciso coragem para refazer um coração despedaçado. Ou as duas coisas em simultâneo.
    Corajoso (e muito) o comentário (belo, belíssimo) de Isabel Soares, a quem não conheço a não ser daqui, que é um meio como qualquer outro de conhecer alguém.
    - Isabel X -

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